GRUPO PARLAMENTAR DO PARTIDO SOCIALISTA
INTERVENÇÃO DE BRAVO NICO
(DEPUTADO DO GRUPO PARLAMENTAR DO PARTIDO SOCIALISTA)
Exmo. Senhor Presidente, Sras. e Srs. Deputados:
Estou no Parlamento há sete meses, representando os nossos concidadãos do distrito de Évora. Após meio ano de, intensa e participada vida parlamentar, senti-me na necessidade de solicitar, à Direcção da minha bancada, uma inscrição, para vos poder dirigir algumas palavras no PAOD.
Senti a necessidade de vos falar do mundo rural, particularmente daquele que conheço, que é aquele em que eu próprio fui criado e onde vivo: o Alentejo.
Tenho notado que, neste parlamento, quando se fala do Alentejo, normalmente há dois padrões discursivos:
· O Alentejo dos obstáculos, dos constrangimentos e das necessidades;
· O Alentejo da paisagem, da gastronomia, do sol e do calor
Obviamente, subtrai a esta caracterização o terceiro padrão discursivo: o das anedotas, especialidade na qual, neste parlamento, parecem existir verdadeiros especialistas na matéria;
Obstáculos, Constrangimentos, Necessidades, Paisagem, Sol, Calor? Apropriando-me de algumas das palavras de José Saramago, eu diria que Obstáculos, Constrangimentos, Necessidades, Paisagem, Sol e Calor são palavras típicas de um Ensaio de Cegueira parcial. De quem não vê, ou de quem não quer ver o actual e futuro Alentejo!
Para descrever o actual Alentejo, não podemos utilizar só aquelas palavras. Os portugueses que, como eu, vivem e trabalham no interior de Portugal, particularmente no Alentejo, recusam este tipo de discursos:
· Os discursos fatalistas de alguns políticos de uma esquerda descrente, acomodada e antiga, mais habituada à resistência antifascista e ao protesto perpétuo, de um passado que já pertence à história, e pouco disponível para a ambição e os desafios que o futuro nos impõe;
· Os discursos pós-modernos de alguns políticos de uma certa direita que, combinando uma veia pseudo-ecologista com uma costela conservadora e neo-liberal, remetem o Alentejo para a representação da sagrada e intocável reserva patrimonial, ambiental e etnográfica que é guardada por alentejanos simples, solícitos e boas pessoas.
O Alentejo não pensa assim. O Alentejo não trabalha assim. O Alentejo não sonha com um futuro assim!
Permitam-me, pois V. Exas., Sras. e Srs. Deputados, que vos traga, do Alentejo, dois exemplos positivos e um desafio, pela positiva:
Primeiro exemplo positivo – O vinho alentejano
Quem saboreia um bom vinho alentejano, deverá ter consciência dos diferentes sabores que este néctar encerra:
· O sabor tradicional, patrimonial e social das antigas adegas onde se produzia o vinho que se bebia encostado em balcões com tampo de mármore, naquelas antigas tascas salteadas no casario caiado de branco de Borba;
· O sabor científico, tecnológico e criativo da bem sucedida simbiose que se tem promovido entre o rigor experimental dos investigadores das ciências agrárias e da gestão de empresas e a imaginação dos especialistas do marketing e do design que trabalham na rede de ensino superior do Alentejo;
· O sabor do empreendedorismo e da multiculturalidade dos empresários alentejanos do sector agrícola que modernizaram as suas explorações, geram riqueza e empregam milhares de trabalhadores, muitos deles qualificados e oriundos de outros países.
· O vinho do Alentejo tem todos estes sabores!
O vinho alentejano compete, em qualidade, com qualquer vinho, em qualquer parte do mundo.
Segundo exemplo positivo – Alqueva
Quem hoje percorre o Alentejo, não poderá deixar de notar que nasceu um autêntico oceano na planície. No Alentejo há, actualmente, muita água. Em certos concelhos alentejanos há quase mais água que terra!
O Guadiana finalmente parou e as águas que passavam descansadas, pelos campos ressequidos, em direcção a Vila Real de Santo António, são agora convidadas a trabalhar em benefício do Alentejo: produzem, em seis centrais hidroeléctricas, a energia renovável de que necessitamos; matarão a sede de mais de 200.000 pessoas (já hoje 19 municípios alentejanos beneficiam desta água); percorrerão 2.240 quilómetros de canais (em construção); irrigarão 110.000 Ha de planície alentejana (actualmente já se irrigam 6.000 Ha). Uma grandiosa obra alentejana, que nenhum faraó egípcio desdenharia assinar.
O Guadiana finalmente parou. Curiosamente, quem decidiu parar – e quem parou, de facto – o Guadiana foi o Partido Socialista, mais propriamente o governo liderado pelo Engenheiro António Guterres, quando, no final de 1995, tomou a firme decisão de construir a barragem e todo o empreendimento, com ou sem financiamento comunitário (uma decisão vertida na histórica Resolução de Conselho de Ministros nº 8/96, publicada em Diário da República no dia 23 de Janeiro de 1996). No dia 8 de Fevereiro de 2002, o mesmo Primeiro-Ministro fechava a comporta que parava, finalmente, na história alentejana, o Guadiana.
Porque o Partido Socialista construiu a Barragem, parou o Guadiana, e continua, hoje, o empreendimento de fins múltiplos, o Alqueva é, na actualidade, uma enorme oportunidade de desenvolvimento para o Alentejo nas áreas da agricultura, agro-Indústria, biocombustíveis, produção hidroeléctrica fotovoltaica e eólica de energia eléctrica e oferta turística especializada.
É devido a este enorme potencial que, actualmente, milhares de milhões de euros aguardam para serem investidos na região da albufeira do Alqueva. Aqui, o problema não é a ausência de vontade de investir, mas exactamente o contrário: garantir que todo este gigantesco investimento não descaracterizará aquilo que o Alentejo sempre soube preservar e que hoje é a sua maior riqueza.
O desafio, pela positiva: inovação, tecnologia e qualificação
O desenvolvimento do Alentejo passa por três certezas:
· Uma base demográfica incompatível com modelo de desenvolvimento assente em actividades de grande necessidade de mão-de-obra;
· Oportunidades de desenvolvimento em áreas de inovação e grande exigência científica e tecnológica;
· Pouca gente e actividades de grande inovação tecnológica e especialização remetem-nos para pessoas muito qualificadas
Ora, é nas escolas, nas associações de desenvolvimento local e fundações e nas autarquias alentejanas que se concentram os recursos humanos mais qualificados e é na comunicação social regional e local que encontramos a mensagem mais positiva (basta ler o Diário do Sul ou o Brados do Alentejo, escutar a Rádio Despertar de Estremoz ou a Rádio Telefonia do Alentejo ou ver as peças da RTP-Évora);
Como fazer?
· Em primeiro lugar, redireccionar a rede de formação existente no Alentejo
O Alentejo tem instalada uma grande e bem guarnecida rede de formação, que hoje se encontra subaproveitada, mas que pode, rapidamente, ser redireccionada para esta gigantesca tarefa de qualificar a generalidade da população jovem e adulta, adequando esse processo de formação às necessidades emergentes das oportunidades de desenvolvimento que estão a surgir.
· Em segundo lugar, redireccionar a acção das autarquias alentejanas:
As autarquias alentejanas têm hoje uma competência assinalável de concepção, gestão e implementação de projectos de desenvolvimento. Esta competência pode e deve ser redireccionada para o esforço de edificação da última infra-estrutura inexistente: a qualificação dos recursos humanos;
· Em terceiro lugar, utilizar bem os meios financeiros
Como consequência da histórica vitória do Primeiro-Ministro, José Sócrates, nas negociações relativas ao futuro Quadro Comunitário, o Alentejo irá ter disponíveis, nos próximos sete a oito anos, importantes e decisivos fundos estruturais que se destinam prioritariamente à qualificação dos recursos humanos;
· Em quarto lugar, decidirmos sem hesitações
Parte significativa da decisão de aceitarmos este desafio e de concretizarmos este projecto depende só dos alentejanos;
· Em quinto lugar, a ausência de desculpas
Queremos, podemos e mandamos: só não teremos desculpas se falharmos!
O Alentejo quer competir com regiões e países como a Catalunha, a Galiza, a Finlândia ou o País de Gales. Ainda não nos podemos comparar, como gostaríamos, com catalães, galegos, finlandeses ou galeses, é certo. Mas queremos competir no mesmo campeonato que eles, daqui a uma década! Tem de ser este o nosso farol!
Sr. Presidente, neste Alentejo positivo que aqui trago a este plenário, a tradição está a deixar de ser o que era:
· Em Reguengos de Monsaraz, não existe só a vila medieval de Monsaraz. Em Reguengos de Monsaraz, entre 9 e 12 do corrente mês, ocorreu, com grande sucesso, a Exponáutica (hoje vendem-se barcos, e navega-se com eles, onde, há poucos anos, só havia torrões de terra seca);
· Em Ponte de Sôr, não há só a Barragem de Montargil e os desportos náuticos. Em Ponte de Sôr, constroem-se aviões;
· em Campo Maior, não há só as Festas do Povo. Em Campo Maior, concentram-se algumas das mais emblemáticas empresas agro-industriais portuguesas;
· Em Estremoz, não há só o Isaías. Em Estremoz, extrai-se, do ventre da terra, um dos mais belos mármores do mundo;
· Em Vendas Novas, não há só bifanas. Em Vendas Novas, milhares de pessoas trabalham em muitas dezenas de empresas industriais, num dos mais dinâmicos e empreendedores concelhos alentejanos;
· Em Sines não há só Porto Covo e os sargos que o Rui Veloso nos diz que assam no braseiro. Em Sines, também se vêem as cidadelas dos megapetroleiros e dos enormes porta-contentores atracam num dos maiores portos de águas profundas do mundo e numa das maiores plataformas logísticas da Península Ibérica;
· Em Aljustrel, não se avistam apenas planícies sem fim. Em Aljustrel, os mineiros vão regressar às minas;
· Em Portel não se ouve só o cante alentejano. Em Portel realiza-se anualmente a Feira do Montado, um dos maiores certames temáticos de Portugal;
· Na Amareleja, não há só as sombras onde se transpiram os 43 graus Celsius. Na Amareleja, prepara-se o maior aproveitamento energético do Sol de toda a Europa;
· Em todo o Alentejo, não se contam só anedotas dos lisboetas.
Como vos mostrei – porque só disse verdades –, o Alentejo está a deixar de ser um problema nacional, porque já é, hoje, para Portugal, um valioso e imprescindível recurso e uma fantástica oportunidade de investimento.
No Alentejo da actualidade, valem mais dois pássaros a voar do que um pássaro na mão. Não estou enganado, Sras. e Srs. Deputados, porque, metaforicamente, ter um pássaro na mão significa estar quieto, significa ter receio de o largar, significa ter concluído um projecto. Ter dois pássaros a voar, metaforicamente, significa que temos um projecto, que temos um caminho, que definimos uma meta, que temos mais vontade do futuro que há-de vir que do passado que já não regressará.
O Alentejo quer ter os seus pássaros a voar porque os voos, rasante e abrupto, do trigueirão ou, longínquo e suave, do grou remetem-nos para uma poderosa mensagem:
A mensagem de que o Alentejo tem asas para voar e quer voar. A mensagem de que o Alentejo acredita nas suas potencialidades, tem um projecto e um rumo para o seu futuro e, principalmente, uma forte vontade de lá chegar muito depressa.
Por muito que custe a alguns, e retornando novamente a José Saramago, quando olhamos para o actual Alentejo, fazendo dessa observação um, verdadeiro e sério, ensaio de lucidez, verificamos que os alentejanos já rejeitaram as intermitências da descrença e estão a alevantar-se do chão.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, no Alentejo, os alentejanos estão a construir o seu Direito a Ficar no Alentejo.
(DEPUTADO DO GRUPO PARLAMENTAR DO PARTIDO SOCIALISTA)
Exmo. Senhor Presidente, Sras. e Srs. Deputados:
Estou no Parlamento há sete meses, representando os nossos concidadãos do distrito de Évora. Após meio ano de, intensa e participada vida parlamentar, senti-me na necessidade de solicitar, à Direcção da minha bancada, uma inscrição, para vos poder dirigir algumas palavras no PAOD.
Senti a necessidade de vos falar do mundo rural, particularmente daquele que conheço, que é aquele em que eu próprio fui criado e onde vivo: o Alentejo.
Tenho notado que, neste parlamento, quando se fala do Alentejo, normalmente há dois padrões discursivos:
· O Alentejo dos obstáculos, dos constrangimentos e das necessidades;
· O Alentejo da paisagem, da gastronomia, do sol e do calor
Obviamente, subtrai a esta caracterização o terceiro padrão discursivo: o das anedotas, especialidade na qual, neste parlamento, parecem existir verdadeiros especialistas na matéria;
Obstáculos, Constrangimentos, Necessidades, Paisagem, Sol, Calor? Apropriando-me de algumas das palavras de José Saramago, eu diria que Obstáculos, Constrangimentos, Necessidades, Paisagem, Sol e Calor são palavras típicas de um Ensaio de Cegueira parcial. De quem não vê, ou de quem não quer ver o actual e futuro Alentejo!
Para descrever o actual Alentejo, não podemos utilizar só aquelas palavras. Os portugueses que, como eu, vivem e trabalham no interior de Portugal, particularmente no Alentejo, recusam este tipo de discursos:
· Os discursos fatalistas de alguns políticos de uma esquerda descrente, acomodada e antiga, mais habituada à resistência antifascista e ao protesto perpétuo, de um passado que já pertence à história, e pouco disponível para a ambição e os desafios que o futuro nos impõe;
· Os discursos pós-modernos de alguns políticos de uma certa direita que, combinando uma veia pseudo-ecologista com uma costela conservadora e neo-liberal, remetem o Alentejo para a representação da sagrada e intocável reserva patrimonial, ambiental e etnográfica que é guardada por alentejanos simples, solícitos e boas pessoas.
O Alentejo não pensa assim. O Alentejo não trabalha assim. O Alentejo não sonha com um futuro assim!
Permitam-me, pois V. Exas., Sras. e Srs. Deputados, que vos traga, do Alentejo, dois exemplos positivos e um desafio, pela positiva:
Primeiro exemplo positivo – O vinho alentejano
Quem saboreia um bom vinho alentejano, deverá ter consciência dos diferentes sabores que este néctar encerra:
· O sabor tradicional, patrimonial e social das antigas adegas onde se produzia o vinho que se bebia encostado em balcões com tampo de mármore, naquelas antigas tascas salteadas no casario caiado de branco de Borba;
· O sabor científico, tecnológico e criativo da bem sucedida simbiose que se tem promovido entre o rigor experimental dos investigadores das ciências agrárias e da gestão de empresas e a imaginação dos especialistas do marketing e do design que trabalham na rede de ensino superior do Alentejo;
· O sabor do empreendedorismo e da multiculturalidade dos empresários alentejanos do sector agrícola que modernizaram as suas explorações, geram riqueza e empregam milhares de trabalhadores, muitos deles qualificados e oriundos de outros países.
· O vinho do Alentejo tem todos estes sabores!
O vinho alentejano compete, em qualidade, com qualquer vinho, em qualquer parte do mundo.
Segundo exemplo positivo – Alqueva
Quem hoje percorre o Alentejo, não poderá deixar de notar que nasceu um autêntico oceano na planície. No Alentejo há, actualmente, muita água. Em certos concelhos alentejanos há quase mais água que terra!
O Guadiana finalmente parou e as águas que passavam descansadas, pelos campos ressequidos, em direcção a Vila Real de Santo António, são agora convidadas a trabalhar em benefício do Alentejo: produzem, em seis centrais hidroeléctricas, a energia renovável de que necessitamos; matarão a sede de mais de 200.000 pessoas (já hoje 19 municípios alentejanos beneficiam desta água); percorrerão 2.240 quilómetros de canais (em construção); irrigarão 110.000 Ha de planície alentejana (actualmente já se irrigam 6.000 Ha). Uma grandiosa obra alentejana, que nenhum faraó egípcio desdenharia assinar.
O Guadiana finalmente parou. Curiosamente, quem decidiu parar – e quem parou, de facto – o Guadiana foi o Partido Socialista, mais propriamente o governo liderado pelo Engenheiro António Guterres, quando, no final de 1995, tomou a firme decisão de construir a barragem e todo o empreendimento, com ou sem financiamento comunitário (uma decisão vertida na histórica Resolução de Conselho de Ministros nº 8/96, publicada em Diário da República no dia 23 de Janeiro de 1996). No dia 8 de Fevereiro de 2002, o mesmo Primeiro-Ministro fechava a comporta que parava, finalmente, na história alentejana, o Guadiana.
Porque o Partido Socialista construiu a Barragem, parou o Guadiana, e continua, hoje, o empreendimento de fins múltiplos, o Alqueva é, na actualidade, uma enorme oportunidade de desenvolvimento para o Alentejo nas áreas da agricultura, agro-Indústria, biocombustíveis, produção hidroeléctrica fotovoltaica e eólica de energia eléctrica e oferta turística especializada.
É devido a este enorme potencial que, actualmente, milhares de milhões de euros aguardam para serem investidos na região da albufeira do Alqueva. Aqui, o problema não é a ausência de vontade de investir, mas exactamente o contrário: garantir que todo este gigantesco investimento não descaracterizará aquilo que o Alentejo sempre soube preservar e que hoje é a sua maior riqueza.
O desafio, pela positiva: inovação, tecnologia e qualificação
O desenvolvimento do Alentejo passa por três certezas:
· Uma base demográfica incompatível com modelo de desenvolvimento assente em actividades de grande necessidade de mão-de-obra;
· Oportunidades de desenvolvimento em áreas de inovação e grande exigência científica e tecnológica;
· Pouca gente e actividades de grande inovação tecnológica e especialização remetem-nos para pessoas muito qualificadas
Ora, é nas escolas, nas associações de desenvolvimento local e fundações e nas autarquias alentejanas que se concentram os recursos humanos mais qualificados e é na comunicação social regional e local que encontramos a mensagem mais positiva (basta ler o Diário do Sul ou o Brados do Alentejo, escutar a Rádio Despertar de Estremoz ou a Rádio Telefonia do Alentejo ou ver as peças da RTP-Évora);
Como fazer?
· Em primeiro lugar, redireccionar a rede de formação existente no Alentejo
O Alentejo tem instalada uma grande e bem guarnecida rede de formação, que hoje se encontra subaproveitada, mas que pode, rapidamente, ser redireccionada para esta gigantesca tarefa de qualificar a generalidade da população jovem e adulta, adequando esse processo de formação às necessidades emergentes das oportunidades de desenvolvimento que estão a surgir.
· Em segundo lugar, redireccionar a acção das autarquias alentejanas:
As autarquias alentejanas têm hoje uma competência assinalável de concepção, gestão e implementação de projectos de desenvolvimento. Esta competência pode e deve ser redireccionada para o esforço de edificação da última infra-estrutura inexistente: a qualificação dos recursos humanos;
· Em terceiro lugar, utilizar bem os meios financeiros
Como consequência da histórica vitória do Primeiro-Ministro, José Sócrates, nas negociações relativas ao futuro Quadro Comunitário, o Alentejo irá ter disponíveis, nos próximos sete a oito anos, importantes e decisivos fundos estruturais que se destinam prioritariamente à qualificação dos recursos humanos;
· Em quarto lugar, decidirmos sem hesitações
Parte significativa da decisão de aceitarmos este desafio e de concretizarmos este projecto depende só dos alentejanos;
· Em quinto lugar, a ausência de desculpas
Queremos, podemos e mandamos: só não teremos desculpas se falharmos!
O Alentejo quer competir com regiões e países como a Catalunha, a Galiza, a Finlândia ou o País de Gales. Ainda não nos podemos comparar, como gostaríamos, com catalães, galegos, finlandeses ou galeses, é certo. Mas queremos competir no mesmo campeonato que eles, daqui a uma década! Tem de ser este o nosso farol!
Sr. Presidente, neste Alentejo positivo que aqui trago a este plenário, a tradição está a deixar de ser o que era:
· Em Reguengos de Monsaraz, não existe só a vila medieval de Monsaraz. Em Reguengos de Monsaraz, entre 9 e 12 do corrente mês, ocorreu, com grande sucesso, a Exponáutica (hoje vendem-se barcos, e navega-se com eles, onde, há poucos anos, só havia torrões de terra seca);
· Em Ponte de Sôr, não há só a Barragem de Montargil e os desportos náuticos. Em Ponte de Sôr, constroem-se aviões;
· em Campo Maior, não há só as Festas do Povo. Em Campo Maior, concentram-se algumas das mais emblemáticas empresas agro-industriais portuguesas;
· Em Estremoz, não há só o Isaías. Em Estremoz, extrai-se, do ventre da terra, um dos mais belos mármores do mundo;
· Em Vendas Novas, não há só bifanas. Em Vendas Novas, milhares de pessoas trabalham em muitas dezenas de empresas industriais, num dos mais dinâmicos e empreendedores concelhos alentejanos;
· Em Sines não há só Porto Covo e os sargos que o Rui Veloso nos diz que assam no braseiro. Em Sines, também se vêem as cidadelas dos megapetroleiros e dos enormes porta-contentores atracam num dos maiores portos de águas profundas do mundo e numa das maiores plataformas logísticas da Península Ibérica;
· Em Aljustrel, não se avistam apenas planícies sem fim. Em Aljustrel, os mineiros vão regressar às minas;
· Em Portel não se ouve só o cante alentejano. Em Portel realiza-se anualmente a Feira do Montado, um dos maiores certames temáticos de Portugal;
· Na Amareleja, não há só as sombras onde se transpiram os 43 graus Celsius. Na Amareleja, prepara-se o maior aproveitamento energético do Sol de toda a Europa;
· Em todo o Alentejo, não se contam só anedotas dos lisboetas.
Como vos mostrei – porque só disse verdades –, o Alentejo está a deixar de ser um problema nacional, porque já é, hoje, para Portugal, um valioso e imprescindível recurso e uma fantástica oportunidade de investimento.
No Alentejo da actualidade, valem mais dois pássaros a voar do que um pássaro na mão. Não estou enganado, Sras. e Srs. Deputados, porque, metaforicamente, ter um pássaro na mão significa estar quieto, significa ter receio de o largar, significa ter concluído um projecto. Ter dois pássaros a voar, metaforicamente, significa que temos um projecto, que temos um caminho, que definimos uma meta, que temos mais vontade do futuro que há-de vir que do passado que já não regressará.
O Alentejo quer ter os seus pássaros a voar porque os voos, rasante e abrupto, do trigueirão ou, longínquo e suave, do grou remetem-nos para uma poderosa mensagem:
A mensagem de que o Alentejo tem asas para voar e quer voar. A mensagem de que o Alentejo acredita nas suas potencialidades, tem um projecto e um rumo para o seu futuro e, principalmente, uma forte vontade de lá chegar muito depressa.
Por muito que custe a alguns, e retornando novamente a José Saramago, quando olhamos para o actual Alentejo, fazendo dessa observação um, verdadeiro e sério, ensaio de lucidez, verificamos que os alentejanos já rejeitaram as intermitências da descrença e estão a alevantar-se do chão.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, no Alentejo, os alentejanos estão a construir o seu Direito a Ficar no Alentejo.
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