"Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos. (…)"
Foi desta forma que o Capitão Salgueiro Maia, na madrugada de 25 de Abril de 1974 na parada da Escola Prática de Cavalaria em Santarém, se dirigiu aos 240 homens que formaram de imediato à sua frente para depois seguirem rumo a Lisboa para marchar sobre a ditadura.
Há, de facto, pequenos parágrafos que mudam para sempre o rumo da história de uma nação, onde se distinguem claramente os homens e as mulheres de coragem, que teimam em lutar contra o imobilismo ideológico, a falta de liberdade e a ausência de vontade própria.
Este viria a ser o dia que restituiria a Portugal a dignidade de um povo livre e com uma forma própria de exprimir a sua vontade política, cultural e ideológica.
Após décadas de medos, de perseguições, de injustiças, de discriminação e de repressão, garantiu-se a realização de eleições livres pluripartidárias, bem como a participação activa dos cidadãos na formação dos órgãos políticos e das instituições que governam o nosso pais e as nossas populações.
Hoje, 35 anos volvidos, temos um Portugal livre e democrático que, como disse John Fitzgerald Kennedy, “(..) é a forma superior de governar, porque se baseia no respeito do Homem como ser racional”.
Assim sendo a liberdade e a democracia não são per si a solução dos problemas da sociedade. Consideramos, outrossim, que se tratam de instrumentos basilares para que os próprios cidadãos transformem e actuem no sistema onde estão inseridos, traçando os rumos do seu próprio destino e aproximando-se tendencialmente do dinamismo inerente às soluções mais desejadas.
Nesta senda, a liberdade baseia-se na vontade própria dos cidadãos e na forma de propor, transmitir, lutar pelos valores em que acreditam, denunciar os abusos, os esquecimentos, os desvios; participar na mudança, na alternativa, na modernização, na inovação, na diferença, primando pelo rigor e transparência ideológica.
Vivemos em democracia podendo escrever os nossos próprios anseios, criticando aquilo que entendemos e exigindo, cada vez mais, tudo aquilo a que temos direito como cidadãos atentos e preocupados.
É certo que vivemos actualmente momentos de uma forte conturbação económica e financeira que assola todo o mundo de forma directa a que não escapa o país, a região e o próprio concelho, mas nem por isso nos devemos resignar a viver deprimidos apresentando sem cessar o queixume próprio daqueles que se imobilizam perante as dificuldades.
Não … Não deixemos que a burocracia vença o entusiasmo e a inércia vença a dinâmica. … Perante as dificuldades da escalada do desemprego, da economia, do desânimo, devemos antes ter uma atitude pró-activa e lutar, ainda com mais afinco, tal como aqueles que lutaram há 35 anos atrás, é esse dever que nos confere a liberdade e a democracia conquistada, na certeza de que se o Presente é hoje, o Futuro é já amanhã. E para que possamos encarar o amanhã com esperança e optimismo cabe-nos preparar os desafios que o Futuro nos trará:
- Ao conformismo e estagnação económica de determinadas actividades, responderemos activamente com uma verdadeira Revitalização e Rejuvenescimento dessas mesmas Actividades Económicas, de importância decisiva para a identidade do nosso Concelho.
- Ao atraso tecnológico responderemos com a modernização técnica e formação profissional.
- À concentração e uniformização das actividades responderemos com uma maior diversificação da base económica local ampliando o tecido empresarial e uma especialização produtiva, aproveitando potenciais vantagens de sinergias inter-concelhias.
Não esperemos comodamente nos gabinetes que as soluções apareçam na nossa frente como que por magia, não foi essa a herança que nos deixaram os que fizeram a Revolução dos Cravos. Por respeito aqueles que construíram Abril vamos ser dinâmicos e sem qualquer assombro de intimidação lançarmo-nos na busca incessante da resolução eficaz dos problemas concretos que nos devastam.
É aqui que os Órgãos Autárquicos, eleitos democraticamente, porque homens como Salgueiro Maia criaram as raízes da liberdade, deverão ser os grandes promotores do exemplo de como a sociedade se deve posicionar nos diversos campos da vida social, cultural e económica, principalmente nesta altura de crise. Cabe-nos a nós, idealizar e construir formas de encontrar caminhos que acabem com a injustiça social, com a falta de emprego e com a falência de empresas.
Vencer estes desafios exige certamente novas leis, novas regras e sobretudo novas formas de estar na sociedade civil, uma nova atitude política e um novo modelo de desenvolvimento.
É com esta atitude de confiança que comemoramos este dia, agradecendo empenhadamente a todos os que fizeram renascer a liberdade, e garantindo que é com o mesmo empenho que encaramos o desenvolvimento concelhio de modo a garantir a construção de um amanhã cheio da esperança, onde a herança democrática por nós recebida será perpetuada no futuro.
Viva o 25 de Abril. Viva Portugal.